sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Maratona cultural


(Faltam 12 dias!)

Pessoal:

Com o dia do centenário do Messiaen se aproximando cada vez mais (é quarta, dia 10), os concertos em sua homenagem estão também se concentrando. Tanto de chegar ao absurdo maravilhoso de eu ter ido a três concertos no mesmo dia com peças dele e ainda não fui a um outro, pois era no mesmo horário do segundo ao qual fui!!!!! (Que delícia!!!!)

Enfim, vamos lá: Saímos de casa às 10h00 e fomos direto para o Auditório do Orsay, onde teve uma pianista (loira) que tocou os prelúdios de Messiaen, + algumas peças do Debussy e do Albeniz. Eu nunca tinha ido a um concerto onde esse conjunto de peças tinha sido tocado. Fiquei muito surpreso com a forte influência impressionista debussyniana que existe no início da carreira de compositor de Messiaen. Esse conjunto de peças é de 1928, quando o compositor tinha apenas 20 anos....
Fomos eu, a Mariana e a Patrícia, uma moça que morou com a Mariana assim que elas chegaram na Maison, pois não havia mais quartos de solteiro e a diretora decidiu colocá-las juntas em um quarto de casal... O bom foi que cada uma delas acabou ganhando uma amiga....
Bom> Assim que acabou o concerto, corri para o Beaubourg (apelido do Centro Pompidou). Tinha combinado com a Elen e o Alexandre de nos encontrarmos 13h30 em frente ao museu. No Beaubourg há essa grande escada rolante que atravessa toda a estrutura do prédio e que tem o apelido de Chenille e que acabou virando o ícone do museu. Chenille é, traduzindo ao pé da letra, a lagarta da borboleta (ou pode ser da mariposa também, tanto faz...). Isso porque o pessoal acha, de alguma maneira, que ela se parece com esse bichinho devorador de folhas... Se prestarmos atenção, até que ela se parece sim um pouco... Como uma lagarta, ela meio que se movimenta por segmentos...
Pois bem: o Ircam, lugar onde passo a maioria das minhas tardes estudando na Médiathèque, fica a, no máximo, uns 20 metros do Beaubourg. Mas, mesmo assim, essa foi a primeira vez em que entrei no museu... E, é lógico, como todo mundo que entra no museu, tivemos de ser "engolidos" pela Chenille... Aqui o Alexandre e a Elen....
Aqui é a vista que se tem de dentro do corpo da Chenille olhando para a praça em frente ao museu...

O Beaubourg, com seus apenas 5 andares, já é um dos prédios mais altos de Paris. Aliás, creio que mais alto do que ele, fora as torres e outras pontas de igrejas e palácios, só mesmo a Tour Montparnasse, que creio seja a única com bem mais do que 5 andares de toda Paris... Mas esse passeio fica para outro dia, quem sabe...

Foi muito bacana, mas um pouco corrido também. Por conta que tinha um concerto às 16h00 no Conservatório (sala do órgão), quando era umas 15h15, corri para o metrô. E, por isso, não pude ver todo o museu. Ele é dividido em dois andares, o quinto, que é onde fica o acervo de 1900 a 1960, e onde fomos; e o quarto, que é onde fica o acervo de a partir de 1970, onde não deu tempo de ir... Vai ficar para a próxima...
Então que saí de lá e corri ao Conservatório. Esse sr. aí da foto abaixo é o compositor Alain Louvier. Ele também, a exemplo do Boulez ontem, foi lá para dar um testemunho da sua convivência com Messiaen. Como ontem eu já vi que isso iria acontecer, dessa vez fui preparado e levei o meu gravadorzinho portátil digital que comprei para fazer as entrevistas... Consegui gravar tudo aquilo que ele falou...
A peça tocada foi o Livro do Santo Sacramento. Na realidade, eles tocaram, desde ontem, todas as peças de Messiaen para órgão, em uma maratona de 12 horas de música para órgão (8h ontem + 4h hoje...) E, nessa maratona, muitos organistas se revezaram no console... Veja a carinha de todos/as eles/elas nas duas fotos seguintes...

E, realmente, o órgão do Conservatório é um espetáculo à parte... Vale a pena ir lá só mesmo para vê-lo....
Pois bem, quando saí do Conservatório, tinha ainda outro concerto para ir. Antes, porém, fiz uma pequena pausa no bairro do Saint Michel para comer um Kebab (André, ele é idêntico àqueles que a gente comia em Dubai nas barraquinhas. Como é que eles se chamavam mesmo?). E, ainda para completar, arrematei um Halav de sobremesa (o doce de gergelim que eu te mostrei, Gyselle, você lembra?)
Bom. Depois desse banquete, resolvi ir à pé até o Orsay (cerca de 25 min.) para fazer a digestão. Cheguei lá bem em cima da hora, mas não estava lotado não... A Mariana, que tinha ido ao concerto comigo cedo, estava lá desde então. Ela ficou para um concerto que ocorreu às 15h00, também com peças do Messaen (os Vingt Regards: só não fiquei pois já os tinha ouvido no Conservatório e fui ao concerto de órgão...) e, no meio do caminho, ela aproveitou para contemplar o quadro "A Criação do Mundo" que é o que ela mais adora da coleção toda do Museu...
Enfim, voltanto ao concerto, a pianista dessa vez (agora com cabelos pretos, morena) tocou uma peça do fim da vida do Messiaen, as "Petites Esquisses d'Oiseaux". Foi muito bacana ter tido essa experiência de uma peça do início da vida dele, no concerto da manhã, e outra do fim da vida dele, de 1985, no concerto da noite. Deu bem para sentir algo que já tinha lido no livro, mas não tinha ainda vivenciado. A estética musical do Messiaen, ao passar dos anos, vai cada vez mais englobando uma escrita cada vez mais e mais precisa de cantos de pássaros. Dessa maneira, na peça de 1928, não há nenhum canto, e a peça se parece muito com quadros impressionistas, onde a tonalidade é "esfumaçada" por notas ou escalas que não pertencem a ela. Já com a pesquisa sobre os cantos dos pássaros (e hoje, além dessa peça de 1985, a pianista tocou também o "La Fauvette des jardins", de 1970), a escrita de Messiaen passa a ser cada vez mais e mais livre...
Poetisando um pouco, a gente poderia dizer que os pássaros ensinaram não só os seus cantos para o compositor francês, como também o ensinaram a alçar um "vôo livre" em suas músicas, com o uso de sonoridades independentes e a pesquisa por novas cores para o som...
(imaginem só que cor tem o som que a pianista está prestes a atacar na foto abaixo...)

No fim, a pianista da noite agradeceu ao público e se desculpou pois não poderia dar um bis. Mas nem eu e nem a Mariana entendemos o motivo da proibição, pois ela falou muito rapidamente e com um francês de quem estava ainda em êxtase pelo concerto que acabara de dar.... Mas já valeu... Foi já uma maratona cultural para ninguém botar defeito...

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Essa história eu não poderia deixar de contar:
ontem à noite, como fui também ao Orsay, fiquei um pouco conversando com a moça da chapelaria, onde a gente guarda os casacos caso não queira entrar com ele no concerto. Conversei um pouco, mas não muito... Hoje, logo que cheguei, ela já se lembrou de mim e me perguntou se eu tinha tido um bom domingo (já eram quase 20h00). Disse que sim e que aquele era já o terceiro concerto ao qual iria só hoje. Ela achou surpreendente a minha resposta e me perguntou que eu era músico. Eu disse que sim, pedi com licença e me dirigi à sala de espetáculos. Na saída, voltei lá, agora já com a Mariana que encontrei dentro da sala, e fui buscar o meu casaco. Na hora em que cheguei ela já me recepcionou diferente, com um sorriso, algo a que os franceses não são muito chegados fazer... Eu disse, então, muito respeitosamente um boa noite e nem precisei entragar o número do meu cabide. O companheiro dela, que trabalha lá junto, já estava lá dentro providenciando. Aí é que veio o melhor da história: ela nos perguntou de onde éramos. Dissemos que éramos do Brasil. Na hora ela abriu um sorriso imenso e, chamando o seu amigo que estava lá pegando o meu casaco, gritou:
"-Venha aqui!!! Rápido!!!! Eles são do Brasil!!! É por isso que eles são tão "sympa" (simpáticos)!!!!!
Veja se pode!!!! E o que a gente fez não foi nada além de conversar um pouco e dar um sorriso cordial para uma pessoa que estava ali para nos ajudar com os casacos....
Até a próxima,
Tadeu

7 comentários:

Tadeu Taffarello disse...

Resposta ao comentário do Sabão de ontem:

Caro Sabão: realmente, como pode ver, foi um dia com muitas atividades. Algo que adorei, apesar mesmo de ter ficado cansado...

E, quanto ao tricolor, você tem razão: deu ele... Só que o Tricolíder do Morum-hexa!!!!!

Não tem jeito: igual a "nóis", só "nóis" mesmo!!!!!

Um abraço de hexacampeão, sendo tri seguido!!!!

Tadeu

Lígia disse...

Veja só...múltiplas felicidades em um único dia...'rave' Messian, tricolíder hexa e o prazer de ser reconhecido pela gentileza brasileira.
Por mais que digam que seja um clichê barato, nada custa ser educado e gentil...

te amo

Tadeu Taffarello disse...

Principessa:

Eu também te amo muito, meu amor...

Acho que não é ser gentil e educado: é simplestemente continuar sendo como a gente é sempre...

Um beijaço,

Tadeu

Tadeu Taffarello disse...

Sabão:

Saiu até o site aqui da França.

Veja só:

http://www.lequipe.fr/Football/breves2008/20081207_223950_sao-paulo-la-passe-de-trois.html

Um abraço de novo (três vezes consecutivas....)

Tadeu

Unknown disse...

Tadeu
Muita paz para o seu coração.
Além de toda a comemoração que você possa fazer por aí, leve também o abraço do Tio Hélio que me pediu pra te mandra um abraço de hexacampeão.
Amanhã ele vai trabalhar com a camisa do título de BI-Campeão (81?) do tempo do Telê Santana.
Apesar de toda alegria devo lhe dizer que foi 1 a 0 com um gol impedido... Mas o 0 a 0 também dava o título... Então...
Por outro lado o Vasco foi pra segundona (junto com o Figueirense).
Depois você precisa me contar mais sobre as reuniões no Centro e os debates sobre a riqueza... Mas pode deixar para quando você voltar. Reserve um tempo (grande) para mim...
Um abraço de saudades

Mom disse...

Oi, Tadeu,
Estou quietinha, mas acompanhando tudo...
Ainda bem que está aproveitando. Adorei o que escreveu das composições do final da vida de Messian: aprendeu a voar ainda mais alto e a imitar o canto dos pássaros...
Grande abraço, Mom.

Tadeu Taffarello disse...

Pai:

O Bi-brasileiro foi em 1986, quando o SP tinha no ataque Müller e Careca. Já o Tri, com o Telê no comando, foi em 1991, em cima do Bragantino. Foi a base do time bicampeão mudial nos anos seguintes, 1992 e 1993.

Mamma:

Tudo bem. O importante é que vocês acompanhem daí... Mas, assim, de vez em quando, vocês poderiam deixar o Skype ligado ou me telefonarem também....

Um abraço,

Tadeu